quinta-feira, 9 de junho de 2016

Tristeza Lasciva

Observando de uma posição privilegiada,
Uma boca que não se importa se está fechada,
E com músculos relaxados fica claro,
Onde a energia do seu prazer está concentrada.

O salivar da sua boca me faz pensar que sou uma presa,
Um corpo que quer me devorar, e nisso há beleza,
E no morder dos seus lábios vou com surpresa,
Te gravar beijos para que você nunca esqueça.

É impossível não racionalizar, sinto enquanto penso,
Dentre milhares de estímulos, de fora, e dentro,
Adentro até onde é possível, com mil hipóteses,
No fim da noite acaba que sou um mero hóspede.

Não é preciso apelar para a seriedade,
A tristeza que me concentra nem aparece aqui,
Sinto que seu corpo está suficientemente de verdade,
Esperando a sinceridade de mais um sorrir.

Sem limites para cômodos ou incômodos,
O que delimita nossos esforços não são os ânimos,
Mas os sentidos que agregamos a todas estas situações,
Trocando corações e sorrisos durante estes anos.

Pouco é dito, mas muito é sentido,
Se palavras são erros, outros erros nós cometemos,
Como se não estivesse suficientemente perdido,
No meio de tudo ainda abro os olhos meio a seus cabelos.

Racionalizo os sentidos, mas pouco me importo com os meios e motivos,
Há o que viver, há o que pensar,
Não preciso dizer que é dar amor, ou amar,
Apenas uma maneira de confiar sem se por em perigo.

Gastaria mais energia em troca desta alegria,
Fisicamente porém, há limites intransponíveis,
Pouco fôlego nos pulmões, e barreiras de dopamina,
E conteúdos sobre você, que ainda são invisíveis.

Vou dar risada da ironia que eu mesmo proponho,
Uma música com tom de tristeza,
Me desculpe, mas preciso entender que não é um sonho,
E que lá fora ainda há muita incerteza.

Esquentando o frio do coração e do corpo,
Divagamos sobre o passar do tempo e afins,
E assim enfim, se “passa” mais um tempo,
Em que experimentamos como é compartilhar com outro.

O tempo nem existe, mas vou dizer que ele é pouco.

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Sobre o tempo: Para a física quântica o tempo não existe como força fundamental da natureza (Gravidade, eletromagnetismo, força nuclear fraca e força nuclear forte), e sim como um continuum.
O tempo não passa, o tempo continua, e enquanto planejamos um futuro que não existe, relembramos um passado que não vai voltar, esquecemos do nosso presente e deixamos de gastar energia com algo que mais se aproxima da nossa realidade: o tempo é agora enquanto vivemos, não haverá nada mais além disso.
Não é pra ser um discurso com falta de fé, mas até pensando pela física, nos aproximamos da realidade ao viver o “presente”, deixando de nos apegarmos a ilusões demais...vamos viver!

“A distinção entre passado, presente e futuro é só uma ilusão, ainda que persistente...” Albert Einstein – em uma carta para a família de seu falecido amigo Michele Besso no ano de 1955.

Referências

Einstein, Albert, Letter to Michele Besso's Family. Ref. Bernstein, Jeremy., A Critic at Large: Besso. The New Yorker (1989).

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